Eu nunca havia dado a menor atenção à Paramore. Sabia que falava a um público mais jovem… e só. Mas a For You me entregou no TikTok o trecho no qual a banda insere “Heart of Glass” em “Hard Times“. Eu gostei e, como de hábito, curti a postagem. Minutos depois, recebi mais um corte em que Hayley Williams esbanja simpatia, beleza, sensualidade e um jeito bem próprio de dançar. E um outro. E mais outro. Era obviamente uma reação do algoritmo à minha primeira interação. Mas, em vez de me indignar com o que tantas vezes soa como manipulação dos nossos sentimentos, eu me perguntei se conseguiria tomar as rédeas da situação.
Abri o Instagram, pesquisei por Paramore, curti meia dúzia de vídeos, adotei como regra interagir com qualquer conteúdo que fizesse menção à banda, e aguardei. Dias depois, as sugestões da minha página de busca estavam tomadas por Hayley.
Logo surgiu a dúvida se eu conseguiria fazer o inverso, menosprezando conteúdos específicos até que sumissem do meu feed. Eu, que usava o Twitter para concentrar meu consumo do noticiário, passei a ‘saltar’ no Insta qualquer postagem informativa. E, novamente em questão de dias, meu feed era puro entretenimento.
Desde então, manipulo o algoritmo de acordo com os meus interesses. Se uma música me irrita, não deixo que chegue ao terceiro segundo de audição. Se sinto falta de alguma amizade, visito o perfil, dou bastante atenção a meia dúzia de conteúdos, e já no dia seguinte a pessoa volta a conviver digitalmente comigo. Se um vídeo me causa algum nível de estresse, arrasto para cima e imediatamente dedico minha atenção ao próximo. Se me agrada, abro o perfil, vejo outros três vídeos do mesmo criador, e logo o sistema o inclui na minha rotina.
Os algoritmos são pensados para otimizar os ganhos das redes sociais que utilizamos. Como estratégia, incrementam a entrega de tudo o que mais consome nossa atenção. Por regra, somos bem passivos no processo. Mas o motor também funciona caso queiramos guiá-lo aos nossos objetivos independente de o tiro eventualmente sair pela culatra — no último ano, de acordo com o LastFM, Paramore foi um dos 20 projetos que mais escutei. Virei fã da banda e lamento muito não ter ido ao show que fizeram em São Paulo quando eu ainda residia lá.
Pode acontecer.
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