Por mais que o tempo seja infinito, nossa vida não é. Ou seja, é limitada a quantidade de tempo que podemos oferecer ao que demanda nossa concentração. É da escassez desse recurso que muitos negócios disputam a nossa atenção, especialmente os das redes sociais.
Claro, os algoritmos usam muitas variáveis. Mas é nítido que priorizam métricas que retenham nossa presença online. Isso pode vir de postagens que são puro entretenimento. Mas, infelizmente, o esforço é otimizado quando o conteúdo gera revolta e angústia — basta constatar que um comentário odioso reverbera bem mais do que um elogio. E que a ausência do ‘dislike’ nas principais plataformas empurrou a insatisfação a comentários que consomem mais energia do que um mero clique num botão.
Eu já havia me emocionado com a performance de Sarah Kay e Phil Kaye para ‘When Love Arrives’ quando a versão em português de Rayssa Bratillieri e Anthony Garcia me levou aos prantos. Pode ter sido a familiaridade maior com o idioma nativo. Mas certamente a fragilidade do segundo momento contou pontos — eu já me encontrava devida e dolorosamente desligado da empresa à qual me dedicava havia três anos.
É um poema literalmente sobre o amor. Mas, noutro plano metafórico, enfatiza a finitude dos ciclos. Neste sentido, talvez acrescente pouco ao que Tom Jobim e Vinicius de Moraes oferecem com ‘A Felicidade’, ou mesmo ao que Lulu Santos nos presenteia com ‘Como Uma Onda’. Estão lá: a tristeza como um alicerce resistente; a felicidade como um frágil telhado de vidro que pode se despedaçar à primeira pedrada; e a vida como uma sequência de ondas que vêm e vão. Mas Kay e Kaye — falando assim, pareço íntimo, mas nada sei deles além do que o ChatGPT me explicou há pouco — vão além, e propõem uma resposta às tais adversidades. No caso, a gratidão pelos bons momentos que as antecedem.